Como o meio ambiente é tratado na Economia?

1/30/2023

Por que olhar a questão ambiental por meio da economia?

Vamos entender os pontos centrais das duas principais correntes teóricas da atualidade. É sempre importante frisar que essas não são as únicas visões existentes, mas sim as mais debatidas e referenciadas, além do fato de que este texto se retém a pontos centrais, com intuito de apresentação do tema, sem o aprofundamento teórico que o assunto requer.

Economia ambiental

A Economia Ambiental, também chamada de Sustentabilidade Fraca corresponde ao mainstream neoclássico, implica a infinitude de recursos naturais, pois considera em seus esquemas analíticos iniciais que a economia funcionava sem recursos naturais. Nessa perspectiva, os recursos naturais não representam um limite ao funcionamento da economia,  os mecanismos de mercado lidariam completamente com as dificuldades encontradas. Posteriormente, os recursos naturais foram acrescentados na análise, mas há um entendimento de que existe substituibilidade perfeita entre trabalho, capital e recursos naturais e, assim, qualquer limite definido por recursos naturais seriam indefinidamente superados através do progresso científico e tecnológico. Um ponto importante e sumarizante da Sustentabilidade Fraca é: o que é visto como elemento a ser transmitido às gerações futuras é, não algum elemento específico do capital (como são entendidos os recursos naturais), mas a capacidade de produzir da economia.

De modo mais prático, a perspectiva da Economia Ambiental é que para recursos naturais já transacionados no mercado (como o petróleo, por exemplo), sua escassez progressiva elevaria seu preço, o que promoveria inovações para poupá-lo ou substituí-lo por outro recurso mais abundante. Já para recursos com caráter de bem público e, consequentemente não transacionados no mercado (como água, rios ou reservas florestais), o mecanismo falha e é necessário intervir para que se expresse uma disposição a pagar pelo serviço ambiental conforme o recurso passa a ser escasso. As soluções ideais na Economia Ambiental prezam pelo livre funcionamento de mecanismos de mercado, isso pode ser feito, a partir da eliminação do caráter público dos recursos ambientais, levando à sua privatização, ou pela internalização de custos, a partir da valoração do dano ambiental e aplicação de multas e taxas.

A Economia ambiental sofre muitas críticas, principalmente por suas premissas e metodologias, a maior corrente crítica é a Economia Ecológica.

Economia Ecológica

O argumento central da Economia Ecológica, também chamada Sustentabilidade Forte, é baseado nas leis da termodinâmica e, a partir disso, se dão suas críticas à Economia Ambiental. A principal diferença entre Economia Ambiental e Economia Ecológica é que na primeira considera-se a economia como um todo, sendo o meio ambiente um subsistema, parte desse todo; já na segunda o contrário se dá, há um todo ecossistêmico do qual a economia faz parte, sendo absolutamente limitada por esse todo. Desse modo, a maior preocupação da Economia Ecológica se dá em como fazer a economia funcionar dentro desses limites, já que, sem a estabilização dos níveis de consumo dentro da capacidade de carga do planeta, a sustentabilidade do sistema econômico não é viável.

Sua principal argumentação se dá através da Lei da Entropia, a segunda lei da termodinâmica, de modo extremamente resumido e simplificado, podemos entender da seguinte forma: a economia é vista como um sistema aberto (que troca energia e matéria com o exterior) dentro de um sistema fechado (troca energia, mas não matéria) que seria o planeta Terra. Assim, sustentabilidade é uma questão de escala da utilização de serviços ambientais (o objetivo é fazer o sistema aberto caber dentro desse sistema fechado) e pode ser determinada apenas por processos coletivos de tomada de decisão, pois se baseia em valores como solidariedade inter e intra gerações.

A economia ecológica considera a precificação de recursos uma ferramenta importante para uma gestão eficiente deles, no entanto, a corrente as considera fundamentalmente imperfeitas, já que nunca é possível conhecer completamente todos os serviços ambientais fornecidos por uma reserva ou a partir de que estágio de deterioração haverá prejuízos irreversíveis, por exemplo. Essa é uma das críticas metodológicas à Economia Ambiental, contrastando com o otimismo da abordagem clássica, que considera a ciência e a tecnologia capazes de superar qualquer problema. Outra crítica fundamental é teórica e se dá em relação à possibilidade de crescimento econômico indeterminadamente que o modelo neoclássico apresenta, pois para a Economia Ecológica, o crescimento econômico é limitado pela capacidade do planeta.

Essas duas correntes diferem desde premissas fundamentais, como a ideia de limite à produção econômica, até metodologias e soluções possíveis. No entanto, a preocupação em manter o sistema produtivo, porém considerando de alguma forma os danos ambientais, com o propósito de aumentar o bem-estar, está presente em ambas e parece ser a tendência geral das questões atuais. Para entender melhor e de modo mais aprofundado sobre o assunto, recomenda-se alguns textos, que serviram de bibliografia para este artigo também:

Economia Ambiental Neoclássica e Desenvolvimento Sustentável

AMAZONAS, Maurício C. Economia Ambiental Neoclássica e Desenvolvimento Sustentável. In: A Natureza e a Terra Feridas, CEBRAP-IBAMA. 2002.

O Fundamento Central da Economia Ecológica

CECHIN, Andrei; VEIGA, José Eli da. O Fundamento Central da Economia Ecológica. In: MAY, Peter H. Economia do Meio Ambiente: teoria e prática: 2.ed. Elsevier, p. 33- 48 , São Paulo, 2010.

Economia ou economia política da sustentabilidade

ROMEIRO, Ademar Ribeiro. Economia ou economia política da sustentabilidade. In: MAY, Peter H. Economia do Meio Ambiente: teoria e prática: 2.ed. Elsevier, p. 3-31, São Paulo, 2010.

Feito por:

Nadia Valentina Turato Pereira Bom


Seiva Júnior

Consultoria em Sustentabilidade

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